Suicídio Midiático

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     Morreu a imprensa. Surgida como um veículo de informações à população, a mídia foi, por tanto tempo, o braço mais forte de um povo contra os desmandos do poder. Só com a informação se era capaz  de transformar realidades adoecidas e construir novos cenários. Com a notícia, todos ganhavam acesso ao fático. Com ela, era possível ponderar, sopesar, reivindicar, aplaudir e revolucionar. A comunicação era a aproximação, a comunhão, o berço da justiça e da igualdade.

     O que houve, então, com esta bela senhora? Desgastada pelo Cronos, a aurora dos tempos idos virou o  palco das piores apresentações. O que era justiça tornou-se a prostituta mais sombria do Moulin Rouge. Se antes ressoava o grito do desvalido, agora vende-se por uns trocados de réis. Seu veneno foi injetado quando olhou no espelho e enfim percebeu o poder de que havia se revestido. Outrora convidava homens à consciência. Não mais. Pegou seu cetro e passou a determinar seus próprios cenários e realidade. É o servo que matou o rei e tomou a coroa para si.

   Suas páginas são tingidas do vermelho-sangue dos irmãos, pais e filhos massacrados que se transformam em mera estatística. É ela a culpada das mais perversas agressões, metamorfoseadas em ganância. A vendagem da maldade é igualmente assassina. A alienação do oprimido é imperdoável. Sua subversão perniciosa faz do opressor um democrata, do tirano um piedoso, do demônio um sagrado. Despudorada, é agora a serpente que, dessa vez, nos impede de comer do fruto. Mais traiçoeira que Medusa, seus tentáculos nos amassam mais que o Kraken, e seu canto ludibria mais que o das sereias.

     Já não enxergamos as grades que nos cercam. O engodo nos trancafiou à céu aberto. Quem terá as chaves dessa gaiola, tão nefasta e insidiosa, nos corroendo pouco a pouco, cada vez mais apertando suas correntes e reduzindo suas paredes invisíveis. Paz se fez guerra, justiça se fez caos, vida se fez sangue. Pouco sobram feixes de luz na janela desta cela. O escuro nos consome e nos cega. Já só vemos sombras. Já não somos nada. Quem poderá acender a luz?

NOTA: Esse texto é parte do roteiro do espetáculo ‘Guerra e Paz: Um Grito de Esperança’, que foi apresentado na Betesda – RR em 01/11/2014.

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